sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Fantasmas não conseguem permanecer debaixo das gotas de água.

Quando começa a chover, as almas buscam abrigo onde puderem: em postos de gasolina, toldos, pontos de onibus, nas casas com portas abertas.

Em tempo de chuva, a grande maioria dos fantasmas se materializa.

Quando você observar um aglomerado de pessoas em um ponto ermo da cidade protegendo-se do tempo chuvoso, na verdade estará vendo almas desencarnadas aguardando o céu voltar a firmar.

 São aparições que olham com angustia para o céu e por ventura podem lhe dirigir algumas poucas palavras.

 Quando chove, fantasmas emitem um leve, quase inaudível, som de tilitar; como duas taças de cristal celebrando um brinde nervoso.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012



Uma equipe da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), certa noite preparou uma emboscada para prender um assassino/traficante/sequestrador que havia sido localizado próximo a saida de uma favela na Grande SP. Ouvi esta história de um legista do hospital, onde há três anos fiquei internado por conta de uma fratura grave na perna.

Este bandido era famoso na "boca"
do crime e dizia-se que ele frequentava um conceituado terreiro (Não faço idéia de qual prática, escola, metodologia, etc, a qual fazia parte) e era fortemente protegido na mandinga, corpo fechado totalmente na conta de um cordão, uma guia que lhe foi feita especialmente, para usar enlaçada no tronco ( que passa pelo ombro e desce dando a volta), finalizando assim uma proteção contra os canas da pesada*.

Foi lá numa madrugada de verão brutal, a Blazer da ROTA carregando cinco oficiais para apreensão do caridoso*. Após batida na casa indicada, o mau elemento escapou pelos fundos e a perseguição deu-se inicio. Quatro dos policiais sairam correndo e o bandido bem à frente, area de matagal, a visão prejudicada, mas estavam no encalço.

O caso é que o cerco apertou numa área de clareira (grama baixa) e os dois policiais mais adiantados puderam observar que o bandido, já tão cansado quanto eles, parou por um momento e arfou pesadamente para levantar um revólver, bem delineado pelo brilho do luar. Quando olhou pra trás e viu os homens da lei, ergueu a arma e disparou a esmo, iniciando nova corrida. Prontamente os perseguidores responderam desferindo alguns tiros, já a meia distância do sujeito.

Na certeza de o terem ferido com pelo menos três disparos certeiros, apertaram o passo para derrubar o homem que ainda corria meio cambaleante, mas num galope irrefreável.

Finalmente na mesma sincronia, os quatro policiais se surpreenderam quando o bandido acelerou a corrida ainda mais e voltou a disparar em revide. Com sorte, os tiros foram em vão. Um dos homens da lei reuniu forças e finalmente emparelhou junto ao bandido, e para seu horror, o homem da guia sangrava em abundancia, crivado por quatro tiros no tórax.

Esbaforido, babando sangue, suando e mal agüentando o próprio corpo, gritava esganiçado: "Arrego, pé preto, arrego"*. Foi então que um policial, ao agarrar o ombro do mal elemento, sem querer, estourou o cordão da guia que enlaçava aquele corpo e no exato momento que ela estourou, caiu inerte com um baque seco no chão, como uma pedra oca, o corpo sem vida do bandido. Disse-me o legista, que ficaram todos num "misto de medo, espanto e sensação de dever cumprido ao encaminhar mais um FDP ao colo do capeta" (Nas palavras dele).


*Canas da pesada - policiais que se destacam na luta contra os criminosos
*Caridoso - assassino cruel
*Pé preto - Policial (por conta das botas)
*Arrego - Desistir
 

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