Na roça
Marcava a sola do pé na terra vermelha e macia do sitio Boi Mirim.
Minha avó cantarolava uma moda enquanto misturava com colher de ferro as folhas de capim limão, hortelã e mentruz, num tambor cheio de álcool de cereais.
Pernilongos pousavam na minha perna num movimento de estilingue, indo e voltando, enquanto eu estapeava a esmo o ar.
Subi a escada do varandão e contornei a casa.
Pulei no meio dos pés de alface e corri pelo vão entre as folhas crespas até o espantalho.
Foi então que pisei no Teiú.
Grande e gelado, ele serpenteou para o lado das chicórias.
Puxei um bambu do espantalho e rocei a terra fofa.
Estraguei metade das folhas que minha avó usava na salada e nada do lagarto.
Ouvi um farfalhar no final das hortaliças e, aos pulos, cerquei o bicho.
Então larguei o bambu e caminhei junto do Teiú até um pé de gabiroba.
O Teiú subiu em espiral pelo tronco e abocanhou um punhado de gabirobas.
Deixou cair todas no chão e me disse:
- Essas são pra você e vê se me deixa em paz.
Na mesma tarde o Teiú foi esmagado por uma carroça.
Na cidade
Marcava a sola do pé no cimento fresco da calçada do prédio comercial Boi Mirim.
Minha avó cantarolava uma moda enquanto misturava amêndoas e açúcar na panela do seu carrinho.
Pernilongos pousavam na minha perna num movimento de estilingue, indo e voltando, enquanto eu estapeava a esmo o ar.
Entrei no hall do prédio e peguei o elevador.
Foi então que pisei no Teiú ascensorista.
Ele apertou o botão do último andar e subiu sem paradas.
Quando a porta abriu, ele disse:
- Tu tens gabiroba ou vou ter que lhe trazer?
Na mesma tarde o Teiú foi demitido.
0 comentários:
Postar um comentário